DISPLAY - a obra de arte na era do seu empate estético
DISPLAY - the work of art in the age of its aesthetic tie
DISPLAY - a obra de arte na era do seu empate estético é uma instalação vídeo, que explora a ideia de superlativação do ego do artista, numa viagem por algumas operações estéticas e artísticas que marcaram os últimos 100 anos da cultura ocidental: do readymade ao pastiche, do re-enactement ao happening, do remake à recriação, numa releitura meta-discursiva dos postulados de Benjamin, Warhol, Beuys, entre outros.
Este projecto estreia a 21 de Novembro de 2014, no espaço mala voadora.porto e será posteriormente apresentado, no âmbito do Festival Temps d’Images, na Galeria Carpe Diem Arte & Pesquisa, em Lisboa, nos dias 19 e 20 de Dezembro.
Concepção: António MV e Cátia Pinheiro
Música: João Ferro Martins
Apoio à Captação de Imagem: José Pando Lucas e Pedro Pinheiro
Colaboração: Chef Rø aka Rogério Nuno Costa, José Nunes e Nuno Miguel
Coordenação de Produção: Luís Puto
Produção: Estrutura e A Bela Associação
Apoios: mala voadora, Duplacena/Temps d’Images, O Rumo do Fumo
mala voadora.porto - Rua do Almada, 277, Porto
mala voadora.porto (Porto)
21 de Novembro de 2014 – 21h30 (Inauguração)
22, 28, 29 de Novembro de 2014 – a partir das 18h00
Galeria Carpe Diem Arte & Pesquisa – Festival Temps d’Images (Lisboa)
19 de Dezembro de 2014 – 18h00 às 20h00
20 de Dezembro de 2014 – 13h00 às 19h00
Entrada Livre
informações: info@estrutura.pt
https://www.facebook.com/aestrutura
http://www.estrutura.pt/
http://www.malavoadora.pt/
http://www.tempsdimages-portugal.com/2014/
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
terça-feira, 21 de outubro de 2014
quinta-feira, 31 de março de 2011
Manifesto Nova Criação™
INTRODUÇÃO
“Nova Criação™ — empresa de geração de capital simbólico” parte da elaboração de um conceito cuja formalização se sustenta na criação de “eventos”, onde as dimensões da intersubjectividade e da participação são os alicerces principais. O projecto consubstancia-se no estudo de três obras basilares que propõem uma abordagem teórica à condição “gasosa” da arte contemporânea e suas ligações com várias áreas do pensamento, da história de arte ao design, passando pela filosofia e pela sociologia. As obras são “A sociedade do Espectáculo” de Guy Debord, “A arte no estado gasoso” de Yves Michaud e “A Estética Relacional” de Nicolas Bourriaud. A obra de Debord existe nesta equação apenas como ponto de partida, pois o seu estudo foi largamente desenvolvido e re-aplicado ao tempo presente pelos outros dois autores. A “sociedade do espectáculo” definida por Debord é o momento histórico em que o mercado passa a ocupar totalmente a vida social e em que o capital chega a um estado tal de acumulação que se transforma em imagem, mas esse modelo foi ultrapassado nas duas últimas décadas por um outro, no qual o indivíduo deixou de ser um agente passivo, puramente receptivo, das actividades ditadas pelos imperativos do mercado. Ao invés, o consumo televisivo regressa ao conceito de jogo, no qual todos podem, de facto, ser famosos; trata-se aqui do reino do “Homem Infame”, definido por Foucault, o indivíduo anónimo e ordinário que é bruscamente colocado debaixo dos projectores mediáticos. Somos assim convidados, e cada vez mais, a ser os “figurantes” do espectáculo, e já não os seus consumidores. Esta assunção tem servido de campo teórico-prático de elaboração das propostas artísticas criadas pelos três criadores deste projecto nos últimos anos; e com esta nova criação apelidada de “Nova Criação”, pretende-se fazer evoluir esse campo de acção, independentemente da formalização concreta do objecto, e para lá da sua dimensão mais imediata: a convocação do olhar do espectador para dentro da construção efectiva da obra. Porque acreditamos que não é possível entender a arte de hoje mediante discursos teóricos oriundos das décadas anteriores, sobretudo no que respeita à dimensão “material” das obras (como descodificar produções artísticas aparentemente intangíveis e efémeras, sejam elas processuais ou comportamentais?), pretendemos construir um objecto artístico que reflicta de forma crítica estes pressu-postos. Num mundo regulado pela divisão do trabalho, pela ultra-especialização e pela lei da rentabilidade, o objectivo dos governos é que as relações inter-humanas sejam efectuadas de acordo com princípios simples, controláveis e repetíveis. A “separação” suprema constitui o último estádio preconizado por Guy Debord de encontro à “sociedade do espectáculo”, sociedade essa na qual as relações humanas já não são “vividas directamente”, antes se distanciam na sua própria representação “espectacular”. E é aqui que se instala a principal problemática da arte de hoje e também aquela que queremos convocar para este projecto, através de uma contra-proposta estética baseada numa ideia de “interdisciplinaridade” crítica: se o “especialista” é aquele cujo domínio de acção é cada vez mais restrito que há-de chegar o dia em que ele irá saber tudo sobre nada (Georges Gusdorf citando Chesterton num dos seus estudos sobre a interdisciplinaridade), então queremos que “Nova Criação” seja um espaço concreto de inflexão teórica que tenha na figura do espectador/consumidor a sua principal tese, antítese e síntese. Para tal, gostaríamos de esboçar quatro paradigmas, que brotam de cada uma das obras principais em estudo e também das concretizações práticas já realizadas no âmbito do projecto e apresentadas publicamente durante o ano de 2010:
1.º PARADIGMA
A forma relacional e as utopias da proximidade
Porque já não é possível inventar “formas” novas, então o “novo” já não pode ser um critério possível de interpretação/descodificação da obra. Não é, contudo, a modernidade que está morta, mas a sua versão idealista e teleológica. A arte deve continuar a anunciar um mundo futuro, “modelizando” no hoje os universos possíveis do amanhã. Lyotard viu nisto uma “condenação”. Mas e se esta “condenação” é na verdade a fuga possível para a História? Aprender a melhor habitar o mundo que temos, em vez de o tentarmos conceber de acordo com uma ideia preconcebida de evolução histórica, é a via que nos parece possível e é aquela que queremos propor com “Nova Criação™”. Não pretendemos, portanto, a criação de uma realidade imaginária e utópica, mas antes a constituição de modos de existência ou modelos de acção dentro do próprio real existente. “Nova Criação™” será, assim, um projecto absolutamente situacionista, que pretende “apanhar o comboio em marcha que é o mundo” (roubando as palavras de Althusser), em vez de o tentar mudar. Propõe-se, assim, uma experiência artística inserida no próprio interstício social, e não inspirada nele. “Nova Criação™” será menos um “espaço a percorrer” e mais uma “duração a comprovar”, uma abertura à discussão infinita. O estado da sociedade de hoje é o estado do encontro possível entre os homens, daí a sua inter-subjectividade, daí o seu enfoque no encontro entre obra e espectador, daí a sua insistência na elaboração colectiva de sentido e na criação de uma estética de teor comportamental. “Nova Criação™” será portanto o espaço concreto de produção de uma socialidade específica, “modelizando” mais do que representando. Mais do que “obra”, o projecto pretende assumir-se como “actividade humana” baseada nas leis do comércio (como toda a arte, aliás), constituindo-se ao mesmo tempo como objecto e sujeito de uma ética específica: a sua única função é a de se expor a esse mesmo comércio.
2.º PARADIGMA
O capital simbólico
Porque já não é possível criar...
[paradigma em construção]
3.º PARADIGMA
O triunfo da Estética
Se já não é possível equacionarmos a hipótese de uma “criação nova” (dois anteriores paradigmas), então resta-nos a partícula autoral, a imagem de marca (registada), a dimensão meramente “visual” (num sentido mais próximo do design que das artes visuais propriamente ditas), a estetização possível de um conceito, que tem ser comunicado (leia-se: vendido, comercializado, difundido...). É com Yves Michaud que chegamos, assim, à síntese possível dos dois paradigmas anteriores: se os conceitos de “novo” e de “criação” são inoperacionais, ficamo-nos pelo “™”. Trata-se este de um paradoxo que Michaud também antevê quando estuda as transformações operadas no mundo da arte na passagem do milénio — o paradoxo deste projecto será, assim, o paradoxo da época em que vivemos: a “beleza” está em todo o lado, tudo é artístico e as “obras de arte” (no sentido moderno do termo: obra de arte como objecto a ser contemplado religiosamente num museu) desapareceram, para dar lugar a uma “beleza” difusa, ou “gasosa”. Este artístico volatilizado em éter estético fez transitar a dimensão material e visual das obras de um plano objectual para um plano experiencial (residual). Os artistas transformam-se assim “produtores de experiências” e a arte deixa de ser substancial, para passar a ser processual. Neste paradigma, os protagonistas deixam de ser as obras e os seus criadores, para passarem a ser aqueles que as olham — é o observador que faz a obra. Isto não significa o fim da arte, mas sim o fim do seu regime objectual: as obras desaparecem dos santuários da arte (que se tornaram entretanto em meios de comunicação de massa, em supermercados culturais) para se apropriarem do mundo cultural como um todo: do design à moda, passando pela cirurgia estética e pelas indústrias do gosto. Já não vivemos em arquitectura, portanto; vivemos em design. Neste sentido, “Nova Criação™” podia afirmar-se, com o devido distanciamento crítico-disciplinar, um “objecto de design”, capaz de servir o maior número possível de pessoas e passível de se adaptar a circunstâncias (sociais e outras) completamente diferentes. Mais do que imaginar espaços de acção (construção feita pela arte moderna), “Nova Criação™” propõe soluções para os habitar, numa abordagem ao mesmo tempo ergonómica e ecológica, informada pela ocupação das formas e pela utilização das imagens, sendo que a única forma possível reside no tal “encontro dinâmico” entre uma proposição artística e outra proposição, artística ou não. A forma artística não está na obra; ela é antes mediatizada por uma obra: a “Nova Criação™”. A forma só ganha consistência quando se coloca no jogo das interacções humanas, no diálogo, na habitação de um mundo comum. Ao binómio clássico “mostrar uma obra/ver uma obra”, queremos com “Nova Criação™” antepor um binómio paralelo: “promover uma obra/receber uma obra” — só assim estaremos sintonizantes com a era do “Visual” (Michaud) na qual nos encontramos emersos há já bastante tempo (pelo menos desde a massificação global da Internet).
4.º PARADIGMA
A arte como anúncio
Após ter sido um evento em si (a pintura clássica), e depois de ter passado pela fase do seu próprio registo gráfico (Jackson Pollock, performance dos anos 60/70, etc.), a obra de arte é hoje um mero anúncio de qualquer coisa por vir, ou que jamais irá acontecer. Após a síntese do paradigma anterior, este 4.º revela-nos o modus operandi de “Nova Criação™”: um projecto que propõe a construção de uma estratégia de comunicação (mais ou menos propagandística) que se quer rizomática e que funcione em rede. Apoiando-nos nos estudos recentes que vêem na aceleração das trocas informativas e na propagação reticular das novas tecnologias o advento de um novo paradigma que afecta a nossa própria percepção da realidade, queremos que a ideia “Nova Criação™” seja viral e fortemente disseminada — diz-se mesmo que uma informação que não seja “disseminável” (spreadable), não tem qualquer valor. A essência do Humano é a sua trans-individualidade, feita dos laços que unem os indivíduos entre si em formas sociais; este jogo inter-humano deverá ser a pedra de toque de todo o projecto “Nova Criação™”, baseado num materialismo que é absolutamente aleatório (pois está relacionado com a ideia de encontro e relacionalidade) e numa praxis que será programática (denominação bastante certeira para o tipo de trabalho que muitos artistas desenvolvem hoje: a obra como um conjunto de unidades reactiváveis por um observador/manipulador).
CONCLUSÕES
1
Toda a arte, hoje, é uma arte “in situ”. Não se trata de uma mera inspiração na configuração espacial ou arquitectural do espaço de exposição, mas antes um profundo inquérito sobre o contexto geral da exposição/apresentação: a sua estruturação institucional, as suas características sócio-económicas, os seus actores.
2
Todas as obras de arte propõem um modelo de sociabilidade, que tanto pode ultrapassar o real ou traduzir-se nele. As formas artísticas só são democráticas se permitirem que o espectador as complete. Não podem apresentar uma certa simetria fascista, portanto. Têm que ser incompletas, têm que se fazer legitimar por um critério de coexistência que precisa, sempre e inexoravelmente, do outro.
3
O mundo é constituído por encontros materiais e aleatórios. A arte também é feita de reuniões de signos e formas feitas pelo acaso de forma caótica. Queremos com “Nova Criação™” começar por criar o espaço no interior do qual o encontro pode surgir. Assim, “Nova Criação™” não apresentará o resultado de um trabalho; ela será o trabalho ele mesmo, ou o trabalho que aí vem...
4
Nova Criação™ é, portanto, um espaço de enunciação. A sua possível concretização será sempre a concretização da sua impossibilidade, ou seja, a concretização de uma promessa, de uma “bande-annonce” (como diria Bourriaud).
5
Também por isso, e na senda do Gusdorf, a “Nova Criação™” é um projecto interdisciplinar (palavra que cada vez se usa menos, mas que cada vez significa mais). Não é trans, não é anti, não é a-disciplinar. É mesmo inter, no sentido em que caminha por dentro e por entre. Não está dentro de nada, não é intra. Mas também não está fora de nada, não é extra. É inter porque percorre um caminho “pelo meio de” (ou “através de”) uma proposta para a criação não de um não-lugar, mas de um lugar-onde, real e efectivo.
6
“Nova Criação™” será, em última instância, um “sítio” (no sentido de site, virtual porque o virtual é o novo real) onde possamos parar para pensar, confortável e descontraidamente — uma espécie de “lounge” conceptual.
“Nova Criação™ — empresa de geração de capital simbólico” parte da elaboração de um conceito cuja formalização se sustenta na criação de “eventos”, onde as dimensões da intersubjectividade e da participação são os alicerces principais. O projecto consubstancia-se no estudo de três obras basilares que propõem uma abordagem teórica à condição “gasosa” da arte contemporânea e suas ligações com várias áreas do pensamento, da história de arte ao design, passando pela filosofia e pela sociologia. As obras são “A sociedade do Espectáculo” de Guy Debord, “A arte no estado gasoso” de Yves Michaud e “A Estética Relacional” de Nicolas Bourriaud. A obra de Debord existe nesta equação apenas como ponto de partida, pois o seu estudo foi largamente desenvolvido e re-aplicado ao tempo presente pelos outros dois autores. A “sociedade do espectáculo” definida por Debord é o momento histórico em que o mercado passa a ocupar totalmente a vida social e em que o capital chega a um estado tal de acumulação que se transforma em imagem, mas esse modelo foi ultrapassado nas duas últimas décadas por um outro, no qual o indivíduo deixou de ser um agente passivo, puramente receptivo, das actividades ditadas pelos imperativos do mercado. Ao invés, o consumo televisivo regressa ao conceito de jogo, no qual todos podem, de facto, ser famosos; trata-se aqui do reino do “Homem Infame”, definido por Foucault, o indivíduo anónimo e ordinário que é bruscamente colocado debaixo dos projectores mediáticos. Somos assim convidados, e cada vez mais, a ser os “figurantes” do espectáculo, e já não os seus consumidores. Esta assunção tem servido de campo teórico-prático de elaboração das propostas artísticas criadas pelos três criadores deste projecto nos últimos anos; e com esta nova criação apelidada de “Nova Criação”, pretende-se fazer evoluir esse campo de acção, independentemente da formalização concreta do objecto, e para lá da sua dimensão mais imediata: a convocação do olhar do espectador para dentro da construção efectiva da obra. Porque acreditamos que não é possível entender a arte de hoje mediante discursos teóricos oriundos das décadas anteriores, sobretudo no que respeita à dimensão “material” das obras (como descodificar produções artísticas aparentemente intangíveis e efémeras, sejam elas processuais ou comportamentais?), pretendemos construir um objecto artístico que reflicta de forma crítica estes pressu-postos. Num mundo regulado pela divisão do trabalho, pela ultra-especialização e pela lei da rentabilidade, o objectivo dos governos é que as relações inter-humanas sejam efectuadas de acordo com princípios simples, controláveis e repetíveis. A “separação” suprema constitui o último estádio preconizado por Guy Debord de encontro à “sociedade do espectáculo”, sociedade essa na qual as relações humanas já não são “vividas directamente”, antes se distanciam na sua própria representação “espectacular”. E é aqui que se instala a principal problemática da arte de hoje e também aquela que queremos convocar para este projecto, através de uma contra-proposta estética baseada numa ideia de “interdisciplinaridade” crítica: se o “especialista” é aquele cujo domínio de acção é cada vez mais restrito que há-de chegar o dia em que ele irá saber tudo sobre nada (Georges Gusdorf citando Chesterton num dos seus estudos sobre a interdisciplinaridade), então queremos que “Nova Criação” seja um espaço concreto de inflexão teórica que tenha na figura do espectador/consumidor a sua principal tese, antítese e síntese. Para tal, gostaríamos de esboçar quatro paradigmas, que brotam de cada uma das obras principais em estudo e também das concretizações práticas já realizadas no âmbito do projecto e apresentadas publicamente durante o ano de 2010:
1.º PARADIGMA
A forma relacional e as utopias da proximidade
Porque já não é possível inventar “formas” novas, então o “novo” já não pode ser um critério possível de interpretação/descodificação da obra. Não é, contudo, a modernidade que está morta, mas a sua versão idealista e teleológica. A arte deve continuar a anunciar um mundo futuro, “modelizando” no hoje os universos possíveis do amanhã. Lyotard viu nisto uma “condenação”. Mas e se esta “condenação” é na verdade a fuga possível para a História? Aprender a melhor habitar o mundo que temos, em vez de o tentarmos conceber de acordo com uma ideia preconcebida de evolução histórica, é a via que nos parece possível e é aquela que queremos propor com “Nova Criação™”. Não pretendemos, portanto, a criação de uma realidade imaginária e utópica, mas antes a constituição de modos de existência ou modelos de acção dentro do próprio real existente. “Nova Criação™” será, assim, um projecto absolutamente situacionista, que pretende “apanhar o comboio em marcha que é o mundo” (roubando as palavras de Althusser), em vez de o tentar mudar. Propõe-se, assim, uma experiência artística inserida no próprio interstício social, e não inspirada nele. “Nova Criação™” será menos um “espaço a percorrer” e mais uma “duração a comprovar”, uma abertura à discussão infinita. O estado da sociedade de hoje é o estado do encontro possível entre os homens, daí a sua inter-subjectividade, daí o seu enfoque no encontro entre obra e espectador, daí a sua insistência na elaboração colectiva de sentido e na criação de uma estética de teor comportamental. “Nova Criação™” será portanto o espaço concreto de produção de uma socialidade específica, “modelizando” mais do que representando. Mais do que “obra”, o projecto pretende assumir-se como “actividade humana” baseada nas leis do comércio (como toda a arte, aliás), constituindo-se ao mesmo tempo como objecto e sujeito de uma ética específica: a sua única função é a de se expor a esse mesmo comércio.
2.º PARADIGMA
O capital simbólico
Porque já não é possível criar...
[paradigma em construção]
3.º PARADIGMA
O triunfo da Estética
Se já não é possível equacionarmos a hipótese de uma “criação nova” (dois anteriores paradigmas), então resta-nos a partícula autoral, a imagem de marca (registada), a dimensão meramente “visual” (num sentido mais próximo do design que das artes visuais propriamente ditas), a estetização possível de um conceito, que tem ser comunicado (leia-se: vendido, comercializado, difundido...). É com Yves Michaud que chegamos, assim, à síntese possível dos dois paradigmas anteriores: se os conceitos de “novo” e de “criação” são inoperacionais, ficamo-nos pelo “™”. Trata-se este de um paradoxo que Michaud também antevê quando estuda as transformações operadas no mundo da arte na passagem do milénio — o paradoxo deste projecto será, assim, o paradoxo da época em que vivemos: a “beleza” está em todo o lado, tudo é artístico e as “obras de arte” (no sentido moderno do termo: obra de arte como objecto a ser contemplado religiosamente num museu) desapareceram, para dar lugar a uma “beleza” difusa, ou “gasosa”. Este artístico volatilizado em éter estético fez transitar a dimensão material e visual das obras de um plano objectual para um plano experiencial (residual). Os artistas transformam-se assim “produtores de experiências” e a arte deixa de ser substancial, para passar a ser processual. Neste paradigma, os protagonistas deixam de ser as obras e os seus criadores, para passarem a ser aqueles que as olham — é o observador que faz a obra. Isto não significa o fim da arte, mas sim o fim do seu regime objectual: as obras desaparecem dos santuários da arte (que se tornaram entretanto em meios de comunicação de massa, em supermercados culturais) para se apropriarem do mundo cultural como um todo: do design à moda, passando pela cirurgia estética e pelas indústrias do gosto. Já não vivemos em arquitectura, portanto; vivemos em design. Neste sentido, “Nova Criação™” podia afirmar-se, com o devido distanciamento crítico-disciplinar, um “objecto de design”, capaz de servir o maior número possível de pessoas e passível de se adaptar a circunstâncias (sociais e outras) completamente diferentes. Mais do que imaginar espaços de acção (construção feita pela arte moderna), “Nova Criação™” propõe soluções para os habitar, numa abordagem ao mesmo tempo ergonómica e ecológica, informada pela ocupação das formas e pela utilização das imagens, sendo que a única forma possível reside no tal “encontro dinâmico” entre uma proposição artística e outra proposição, artística ou não. A forma artística não está na obra; ela é antes mediatizada por uma obra: a “Nova Criação™”. A forma só ganha consistência quando se coloca no jogo das interacções humanas, no diálogo, na habitação de um mundo comum. Ao binómio clássico “mostrar uma obra/ver uma obra”, queremos com “Nova Criação™” antepor um binómio paralelo: “promover uma obra/receber uma obra” — só assim estaremos sintonizantes com a era do “Visual” (Michaud) na qual nos encontramos emersos há já bastante tempo (pelo menos desde a massificação global da Internet).
4.º PARADIGMA
A arte como anúncio
Após ter sido um evento em si (a pintura clássica), e depois de ter passado pela fase do seu próprio registo gráfico (Jackson Pollock, performance dos anos 60/70, etc.), a obra de arte é hoje um mero anúncio de qualquer coisa por vir, ou que jamais irá acontecer. Após a síntese do paradigma anterior, este 4.º revela-nos o modus operandi de “Nova Criação™”: um projecto que propõe a construção de uma estratégia de comunicação (mais ou menos propagandística) que se quer rizomática e que funcione em rede. Apoiando-nos nos estudos recentes que vêem na aceleração das trocas informativas e na propagação reticular das novas tecnologias o advento de um novo paradigma que afecta a nossa própria percepção da realidade, queremos que a ideia “Nova Criação™” seja viral e fortemente disseminada — diz-se mesmo que uma informação que não seja “disseminável” (spreadable), não tem qualquer valor. A essência do Humano é a sua trans-individualidade, feita dos laços que unem os indivíduos entre si em formas sociais; este jogo inter-humano deverá ser a pedra de toque de todo o projecto “Nova Criação™”, baseado num materialismo que é absolutamente aleatório (pois está relacionado com a ideia de encontro e relacionalidade) e numa praxis que será programática (denominação bastante certeira para o tipo de trabalho que muitos artistas desenvolvem hoje: a obra como um conjunto de unidades reactiváveis por um observador/manipulador).
CONCLUSÕES
1
Toda a arte, hoje, é uma arte “in situ”. Não se trata de uma mera inspiração na configuração espacial ou arquitectural do espaço de exposição, mas antes um profundo inquérito sobre o contexto geral da exposição/apresentação: a sua estruturação institucional, as suas características sócio-económicas, os seus actores.
2
Todas as obras de arte propõem um modelo de sociabilidade, que tanto pode ultrapassar o real ou traduzir-se nele. As formas artísticas só são democráticas se permitirem que o espectador as complete. Não podem apresentar uma certa simetria fascista, portanto. Têm que ser incompletas, têm que se fazer legitimar por um critério de coexistência que precisa, sempre e inexoravelmente, do outro.
3
O mundo é constituído por encontros materiais e aleatórios. A arte também é feita de reuniões de signos e formas feitas pelo acaso de forma caótica. Queremos com “Nova Criação™” começar por criar o espaço no interior do qual o encontro pode surgir. Assim, “Nova Criação™” não apresentará o resultado de um trabalho; ela será o trabalho ele mesmo, ou o trabalho que aí vem...
4
Nova Criação™ é, portanto, um espaço de enunciação. A sua possível concretização será sempre a concretização da sua impossibilidade, ou seja, a concretização de uma promessa, de uma “bande-annonce” (como diria Bourriaud).
5
Também por isso, e na senda do Gusdorf, a “Nova Criação™” é um projecto interdisciplinar (palavra que cada vez se usa menos, mas que cada vez significa mais). Não é trans, não é anti, não é a-disciplinar. É mesmo inter, no sentido em que caminha por dentro e por entre. Não está dentro de nada, não é intra. Mas também não está fora de nada, não é extra. É inter porque percorre um caminho “pelo meio de” (ou “através de”) uma proposta para a criação não de um não-lugar, mas de um lugar-onde, real e efectivo.
6
“Nova Criação™” será, em última instância, um “sítio” (no sentido de site, virtual porque o virtual é o novo real) onde possamos parar para pensar, confortável e descontraidamente — uma espécie de “lounge” conceptual.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Event
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Anti-restaurant — the recipes!
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NOW, DO IT YOURSELF!
As receitas dos pratos mais carismáticos dos Anti-Restaurants Nova Criação™ 2010 estão a ser publicadas diariamente no blog "Vou À Tua Mesa", escritas por Chef Ró e convidados. A seguir.
Mais informações sobre o Anti-Restaurant Nova Criação™ aqui.
Mais informações sobre o Chef Ró aqui.
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NOW, DO IT YOURSELF!
As receitas dos pratos mais carismáticos dos Anti-Restaurants Nova Criação™ 2010 estão a ser publicadas diariamente no blog "Vou À Tua Mesa", escritas por Chef Ró e convidados. A seguir.
Mais informações sobre o Anti-Restaurant Nova Criação™ aqui.
Mais informações sobre o Chef Ró aqui.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
The Event
Anti-Restaurant Nova Criação™
um projecto gastronómico-artístico de Cátia Pinheiro, José Nunes e Rogério Nuno Costa
16 a 18 de Dezembro - Espaço Teatro Praga (Poço do Bispo)
Quinta-Feira, 16 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Brasileiro
Sexta-Feira, 17 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Japonês
Sábado, 18 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Escnadinavo
Mais informações, menus e reservas em:
http://anti-restaurant.blogspot.com/
um projecto gastronómico-artístico de Cátia Pinheiro, José Nunes e Rogério Nuno Costa
16 a 18 de Dezembro - Espaço Teatro Praga (Poço do Bispo)
Quinta-Feira, 16 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Brasileiro
Sexta-Feira, 17 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Japonês
Sábado, 18 de Dezembro - Anti-Restaurant de Natal Escnadinavo
Mais informações, menus e reservas em:
http://anti-restaurant.blogspot.com/
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
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